A agroecologia pode mitigar o impacto climático nas culturas

 

© Marcelo Camargo/Agência Brasil

O calor excessivo está afetando as plantações de soja, milho e arroz no sul do Brasil, assim como as plantações de café e frutas no sudeste. A cada ano, as mudanças climáticas afetam mais a produção de alimentos.

Segundo o climatologista Francis Lacerda, pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco, estratégias agroecológicas podem amenizar esses efeitos e reduzir a ameaça de insegurança alimentar, pelo menos por enquanto. “Existem práticas que ainda podem reduzir esses efeitos. Digo ainda, porque em breve não poderão mais”, alerta.

A primeira tarefa é o reflorestamento. “Uma prática comum em agroecologia é o cultivo intercalar. Você planta uma árvore frutífera ao lado de uma leguminosa, feijão, milho, tudo junto… Essas plantas vão interagir e se beneficiar umas das outras. Algumas vão receber água profunda graças às suas raízes principais, enquanto outras não. Plantas que não toleram muita radiação crescem melhor ao lado de árvores grandes que dão sombra. Temos que reflorestar e adotar esse modelo de sistema agroflorestal”, diz o especialista.

Ele acrescenta que a diversificação de culturas melhora a fertilidade e a proteção do solo, além de reduzir o risco de pragas e doenças, “ajudando a evitar o uso de pesticidas e garantindo vantagens ambientais e financeiras aos agricultores, como menores investimentos e culturas diversificadas, evitando riscos econômicos devido a condições climáticas extremas”.

Brasília (DF) 20/02/2025 - O climatologista do Instituto Agropecuário de Pernambuco Francis Lacerda. Foto: IPA/Divulgação
Climatologista Francis Lacerda, pesquisador do Instituto Agronômico de Pernambuco – IPA

Impacto sobre os agricultores

O climatologista ressalta que a maior parte dos alimentos consumidos pelas famílias brasileiras é produzida por agricultores familiares, cada vez mais preocupados com as mudanças climáticas. “Porque não podem mais usar práticas tradicionais de plantar em um período e colher em outro. As ondas de calor aumentam a resistência de alguns organismos do ecossistema, como insetos, fungos e bactérias, o que acaba com a produção”, alerta.

Francis também defende políticas públicas que implementem tecnologias para que as comunidades possam captar e armazenar sua própria água e gerar a energia que consomem, tornando-as menos vulneráveis ​​ao clima. “Precisamos dar autonomia a essas comunidades para que elas produzam seus próprios alimentos nessas condições e também reflorestem suas propriedades: é possível, é econômico e os agricultores estão interessados”, enfatiza.

Embora não seja feito em larga escala, a incidência de algumas espécies de plantas endêmicas dos biomas brasileiros está diminuindo, segundo o climatologista, “incluindo espécies adaptadas para prosperar em áreas secas e quentes”.

 

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