Covid-19: Manaus vive colapso com hospitais sem oxigênio, doentes levados a outros estados, cemitérios sem vagas e toque de recolher
A média móvel de mortes no estado cresceu 183% nos últimos sete dias. O envio de oxigênio ao estado não está sendo suficiente para suprir a demanda, e o governo está transferindo pacientes a outros estados.
À beira de um colapso na saúde, o estado do Amazonas vai transferir pacientes de covid-19 a outros estados, além de decretar toque de recolher a partir das 19h até as 6h. As medidas foram anunciadas hoje pelo governador Wilson Lima (PSC) e têm como objetivo conter a disseminação do coronavírus no estado. O primeiro a receber pacientes do Amazonas será Goiás, com dois hospitais: o HUGO (Hospital Estadual de Urgências de Goiânia Dr. Valdemiro Cruz) e o HGG (Hospital Estadual Geral de Goiânia Dr. Alberto Rassi). Depois, será a vez de Piauí, Maranhão, Paraíba e Rio Grande do Norte, além do Distrito Federal — mais especificamente, Brasília.
A data e a ordem dessas transferências ainda não foram divulgadas pelo governo amazonense. Segundo o secretário de Atenção Especializada em Saúde do Ministério da Saúde, coronel Franco Duarte, os pacientes transferidos têm estado clínico considerado moderado. Eles ainda dependem de oxigênio, mas podem ser aerotransportados com “toda segurança”. “O paciente do Amazonas que subir na aeronave terá toda a segurança e assistência, com cobertura de assistentes psicossociais, para que não haja falha nenhuma. Todos [os profissionais] voltados para o paciente, para que ele chegue no destino com toda segurança e acolhimento que nosso doente tem que ter”, explicou o secretário durante coletiva .
Franco Duarte ainda afirmou que a escolha pelos destinos foi feita com base em estudos, feitos “madrugada adentro”, de maneira a prestar assistência aos pacientes do Amazonas sem sobrecarregar o sistema de saúde de outros estados. A decisão, segundo ele, teve critérios “clínicos e objetivos”. A bordo do avião, ainda de acordo com o secretário, estarão duas equipes formadas por médicos e enfermeiros, com 20 profissionais. A escolta dos pacientes será feita pelo Ministério da Defesa, e o retorno ao Amazonas deve ser feito em aeronaves da Gol.
Manaus vive uma crise sem precedentes com o avanço dos casos de Covid-19. Com internações batendo recordes, unidades de saúde ficaram sem oxigênio. O estado está sendo obrigado a enviar pacientes para outros estados. Os cemitérios também estão lotados, tiveram o horário de funcionamento ampliado e devem instalar câmaras frigoríficas. Para frear o vírus, o governo decidiu proibir a circulação de pessoas entre 19h e 6h em Manaus.
A média móvel de mortes cresceu 183% no Amazonas nos últimos 7 dias. Até esta quarta-feira (13), mais de 219 mil pessoas haviam sido infectadas pela Covid em todo o estado, e mais de 5,8 mil morreram com a doença.
O número de internações pela doença em Manaus chegou a 2.221, de 1º a 12 de janeiro. No pico da doença no estado, em abril do ano passado, foram internados 2.128. O ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, visitou o Amazonas nesta semana e afirmou que Manaus é “prioridade nacional neste momento”.
Na terça-feira, a Fiocruz divulgou que uma nova variante do coronavírus que causa a Covid-19 foi encontrada no Amazonas. Trata-se da mesma variante que chegou ao Japão após viajantes passarem pelo estado.
Uma das razões para o colapso do sistema de saúde é o consumo de oxigênio por pacientes de leitos clínicos, segundo o Coronel Franco Duarte, representante do Ministério da Saúde. “Aquele paciente que não está no leito de UTI é o que consome mais, porque ele fica ao lado do regulador de oxigênio. A sensação é de falta de ar, e você abrindo o acesso ao oxigênio, você tem a sensação de bem-estar, mas, em contrapartida, aumenta muito essa demanda”, disse Duarte.
O Secretário da Saúde do Amazonas, Marcellus Campêlo, afirmou nesta quinta feira (14) que o estado passa por uma crise no abastecimento de oxigênio. Campêlo disse que o Ministério da Saúde, o governo do Amazonas e as Forças Armadas estão trabalhando no apoio logístico para a entrega de oxigênio para a rede estadual de saúde, com o transporte do gás de outros estados para o Amazonas.
“Tivemos um pico de fornecimento e aumento da demanda acima do esperado. Fomos comunicados ontem [quarta-feira] à noite do colapso do plano logístico em relação a algumas entregas, o que causará a interrupção da programação por algumas horas”, afirmou Campêlo, referindo-se ao recebimento do gás.
Segundo ele, a alta demanda surpreendeu um dos maiores conglomerados de gás do mundo, a empresa White Martins.